28/05/13

A baixa e os hostels, crime ou castigo!



Muito recentemente Portugal foi distinguido com diversos prémios, nas suas mais diversas categorias, no topo do ranking dos melhores hostels do mundo. Quando olhamos com mais atenção para o fenómeno, constatamos que na sua generalidade, os mesmos, localizam-se na baixa alfacinha em edifícios anteriormente devolutos. A febre do negócio dos hostels que recentemente vive um boom generalizado, proporcionou um aumento exponencial do número de camas deste patamar de oferta, conseguindo promover o turismo na baixa de Lisboa, através da reabilitação de dezenas de edifícios em alguns dos casos com problemas estruturais ou de salubridade. Sem qualquer regulação, a oferta de camas para esta categoria de alojamentos económicos aumentou em demasia, respondendo em excesso à procura turística. O sector começa agora a sofrer os seus primeiros ajustamentos com a consequente paragem de algumas unidades em época baixa ou até mesmo o fatídico encerramento. Esta situação provoca dois problemas que não foram anteriormente acautelados pelo legislador. Se por um lado estas lógicas proporcionaram à cidade, numa primeira fase, o reabitar do centro e a baixa, constatamos que os edifícios agora adaptados a alojamento local não têm no imediato, capacidade de ajustamento a tipologias residenciais, obrigando ao potencial investidor um avultado encargo após a aquisição, gerando um consequente desinteresse sobre o imóvel. Por outro lado, num futuro próximo, perspectiva-se que este tipo de dinâmicas de moda venha mais uma vez promover uma desertificação do centro com tipologias ajustadas a serviços ou comércio ao invés da residencial. 

Cabe aos arquitectos, nesta fase crucial, ter a responsabilidade de mais um desafio que passa por encontrar estratégias e soluções que permitam adaptar os edifícios a este tipo de negócio sem adulterar as suas valências residenciais, proporcionando ao edifício capacidade de mutação às modas ou dinâmicas imobiliárias. Talvez agora, mais do que nunca o papel do arquitecto é cirúrgico no delinear esquemas e processos que sirvam os preceitos do seu novo cliente, mas que assegurem os valores de sociabilidade, privacidade e de especificação funcional. A preservação dos percursos autonomizados que hierarquizam os acessos e estabelecem com clareza uma fronteira entre áreas públicas e privadas no interior da maioria das tipologias da baixa será determinante para o repovoamento da baixa.