12/11/13

Supermodernos


O Movimento Moderno, força destemida com leme de betão foi domesticada pelo capital e lógicas financeiras após a Grande Guerra, dilui-se na estética e assumiu um papel de protagonista nas questões “mais sociais”. Já o chamado pós-modernismo através do contextualismo, adquire expressão que avança mais tarde para o descontrutivismo filosófico de Derrida, Deleuze e companheiros. Esta “evolução” da “condição” moderna é hoje assumida por muitos como uma era supermoderna, onde os lugares deram vez aos “não lugares” de Marc Áuge. Com a velocidade que as sociedades actuais imprimem nas suas dinâmicas internas, o “lugar” historicista e enraizado no contexto do pós-modernsmo transformou-se através da maior mobilidade, do bombardeamento de signos e informações e na produção de elevados níveis de anonimato nos espaços públicos. Deste modo os não lugares assumem-se como auto-redomas relativamente à localização, envolvente e por outro lado extremamente permeáveis aos diferentes usos e lógicas ligadas às redes de informação e interesses económicos dos quais, cada vez mais, são fatia importante. A actual percepção de lugar e uso do espaço é consideravelmente diferente do final do séc. XX pelo incremento do comércio mundial e do expansionismo que a “net” permitiu na disponibilidade e obtenção de informação.
Como Ibelings afirma, agora o “mundo tornou-se menor e, ao mesmo tempo, maior”, na exacta medida em que, por um lado, a facilidade na difusão da informação na “rede” tornou o mundo mais pequeno, por outro lado a actual possibilidade de comunicação e interacção de indivíduos que anteriormente pela distância espacial não lhes seria possível interagir, torna o mundo maior.

Perante os flashes da ribalta a actual arquitectura distancia-se da era pós-moderna através de vontades tecnocráticas que procuram uma resposta ao livre capital das cidades cosmopolitas e necessidades das empresas. Esta arquitectura que se coloca ao serviço da modernização, como parte do processo económico apresenta-se livre de qualquer justificação social de apoio ou assistência. O paradigma terá de mudar em resposta ao esvaziamento do conceito económico do continente europeu e americano e como solução para
estruturar o desenvolvimento dos países do continente africano e asiático.

Moçambique e José Forjaz


O regime ditatorial foi determinante no percurso da sociedade portuguesa no principio do séc.XX, tendo uma forte presença na pedagogia da arquitectura durante este período. A politica da encomenda proporcionou obras de grande envergadura e emblemáticas para a época em alguns dos casos. No entanto o advento do modernismo, através dos CIAM e com algumas influencias modernistas brasileiras, proporcionou que ao pouco dinâmico imaginário formal imperial, um novo caminho através das novas gerações de 40. No caso concreto de Maputo, “Pancho Guedes” é a maior referencia e talvez a obra que marca de forma indelével a paisagem da cidade pela sua excentricidade relativamente ás convenções de época. Contudo depois da independência em 75, este ritmo esmorece e a qualidade arquitectónica da antiga Lourenço Marques abranda. As objectivas das publicações da especialidade deixam de estar viradas para África apesar de algumas personagens de relevo continuarem na sua senda de mérito. Um dos maiores exemplos é José Forjaz, com a pacificação do território, constitui uma obra interessante e consubstanciada na observação do território moçambicano (lugar e paisagem), nas lógicas construtivas vernaculares, nas orgânicas tipológicas e fundamentalmente nos valores do lugar e do grupo social onde está inserido.
José Forjaz nas duas ultimas décadas produziu uma obra no território moçambicano talvez pouco revisitada e analisada pela critica. Obra complexa que abrange os mais diversificados programas e níveis de escala, nomeadamente edifícios residenciais, públicos, religiosos, escolas ou monumentos. Com um percurso que pisa territórios influenciados por Barragan ou Charles Correa contudo a formação portuguesa não o inibe de beber do imaginário modernista brasileiro. Apresenta uma abordagem ao lugar e programa proposto de uma extrema sensibilidade e reconhecimento da envolvente quer na escolha dos materiais e sua conjugação, quer no controlo da luz e condução da mesma na definição de hierarquias. A economia de recursos é utilizada numa inversão exponencial à sua capacidade de produção de complexidade espacial como são exemplos disso a Escola profissional dos Salasianos de Matundo ou a Residência Torcato em Maputo.

O Mosteiro das Clarissas em Namaacha, a residência João Pó e a  Astrid Fion em Maputo são três obras determinantes na definição do perfil do arquitecto que produz uma obra que marcará de forma indelével o território moçambicano. Com um profundo enraizamento na cultura moçambicana, José Forjaz define actualmente um relevante caminho no panorama arquitectónico africano, como diria Mia Couto, “é para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”.