Em
1964 realizou-se no MOMA de Nova Iorque, sobre a curadoria de Bernard Rudofsky,
uma exposição intitulada de “Architecture without architects”. Nessa mesma
exposição, Rudofsky defende a ideia de que a arte de construir é algo
intrínseco à condição humana e que esse fenómeno “nada acidental” tem uma
importância incontornável nos perímetros do estudo da teoria e da história da
Arquitectura. Perante um modernismo em velocidade cruzeiro, este momento
permitiu ser um espaço de reflexão e enquadramento da postura do arquitecto
para com a metodologia, no desenvolvimento de tipologias e processos
construtivos. Analisa e afirma que a construção, essa natureza universal, que
perdura na oralidade e experiência entre anciãos, especializou-se e
doutrinou-se na sua própria especialidade! Esta manifestação representa uma
analise sobre algo comummente ignorado e que vai muito para além de modas e
estilos, sendo sem sombra de dúvida a chave para o entendimento da construção
como algo inerente ao presente do nosso dia-a-dia.
A pré-modernidade demonstra-nos processos construtivos ajustados cirurgicamente a realidades sociais enquadradas por clima e realidade económica. A ignorância cientifica permitiu através da experiência, o desenvolvimento de processos exploratórios de tremenda capacidade inventiva que a futura industrialização iria aprisionar. Estes processos metodológicos de auto-expressão espacial devem ser repensados e analisados com mais cuidado pelas escolas de arquitectura. Não há duvida que o Inquérito à arquitectura Regional Portuguesa na década de 50 será mais vasto do que o revelado na obra publicada, contudo esse mesmo documento revela extensas descrições tipológicas com importantes enquadramentos sociológicos carecendo de uma analise sobre possessos construtivos de época e comportamentos/aplicação de materiais nas diversas regiões.
As décadas de 80 e 90 do século XX, face à explosão económica, provocaram processos construtivos “alienígenas” de maneira a saciar a sede de construir. Hoje começam a desenvolver as metástases dessas mutações quer nas estruturas dos edifícios, quer no comportamento térmico no interior dos espaços habitáveis. O calafetamento da habitação por meio de novos materiais sem o cuidado da produção de processos naturais de ventilação natural permitiu o desenvolvimento de habitações que obrigaram a consequentes sistemas mecânicos de climatização ou até mesmo de ventilação forçada.
Perante
uma conjuntura que nos obriga a repensar tudo, será importante recuarmos e
perceber as estruturas desenvolvidas por anónimos que conseguiam ao mesmo tempo
combinar enquadramento com o lugar, estética apurada e funcionalidade em
construções ajustadas às condicionantes climatéricas e aos recursos naturais da
envolvente. Não se pretende questionar todo o processo até à exaustão, será
pertinente um conhecimento mais profundo sobre este “know how” por forma a
criarmos uma maior justeza e adaptabilidade das nossas casas à realidade do
país.
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