09/03/23

Sustentável Arquitecto



Expresso

Hoje, a profissão de arquiteto tem uma exigência elevada e é por isso que a sua formação tem um percurso mais longo do que o normal – uma licenciatura acrescida da obtenção do grau de mestre. Todavia, e ao contrário de outras, a estruturação da carreira de arquiteto não reflete essa exigência e especificidade, nem no setor público nem no setor privado. Assim, são os serviços de arquitetura os que mais sofrem com esta omissão, tornando a concorrência desleal, inibindo os ateliês/escritórios de recursos para entrar no mercado internacional e deixando os próprios arquitetos reféns de um sistema de honorários/remuneração onde a arquitetura é a atividade mais mal remunerada de todo o ecossistema da construção.

Por outro lado, o processo administrativo transformou-se num labirinto onde se entra e do qual não se consegue sair, tornando evidente a urgência de se exigir uma burocracia moderna, que utilize apenas os meios indispensáveis para o funcionamento do Estado. Para que isso aconteça, os arquitetos não podem cair no engodo de se culparem a si próprios, desde logo não aceitando responsabilidades insustentáveis nem, tampouco, permitirem que se coloque o arquiteto projetista contra o arquiteto das entidades licenciadoras e vice-versa – isso não faz sentido porquanto o problema reside numa legislação fragmentada e numa organização disfuncional, que a desmaterialização ainda ajudou a complicar.

Nesta conjuntura, os arquitetos encontram-se perante um dilema, ou aceitam o atual panorama, ou assumem que é tempo de definirem um novo futuro.

O arquiteto contemporâneo, sustentável em todas as suas dimensões, é, tão simplesmente, um arquétipo de 28 mil colegas. Do responsável do ateliê ao que trabalha para outros; de quem está na função pública ou no setor privado; é projetista, professor, formador, curador, investigador, promotor ou fiscal; sonha sempre em cada projeto, mas também sofre dia após dia com a dificuldade da profissão.

A Ordem dos Arquitectos (OA) escolheu os Açores para, neste início de março, acolher o 16.ª Congresso dos Arquitetos, que decorrerá sob o tema da sustentabilidade. Para suscitar o debate, cerca de 300 arquitetos, envolvidos na atividade associativa, subscreveram um texto denominado de “Sustentável Arquiteto”, uma reflexão centrada na arquiteta e no arquiteto, que se entende ser mais pertinente e urgente do que a pretendida pelo alinhamento oficial do congresso, focada quase apenas na dimensão programática da arquitetura. Trata-se de um documento congregador e focado no futuro, ponderando sobre o momento atual dos arquitetos, as suas principais dificuldades e problemas.

E o que pretende o arquiteto atual? Em primeiro lugar, que o conceito de sustentável no arquiteto seja requisito ex-ante da arquitetura sustentável. Que se desconstrua o labirinto burocrático em que o País se envolveu, desejando que a Ordem dos Arquitectos exija medidas concretas ao Estado, mas num contexto de responsabilidade, equilíbrio e bom senso. Que a Arquitetura e os seus serviços sejam reconhecidos como de interesse público, permitindo que os arquitetos reclamem a sua função social. Que a voz dos arquitetos se faça ouvir nas questões de impacto nacional, regional ou local, impelindo a Ordem dos Arquitectos a um papel muito mais interveniente, transformando esta estratégia num correspondente plano de ação para o próximo triénio.

https://expresso.pt/opiniao/2023-03-01-Sustentavel-Arquiteto-4e317b24?fbclid=IwAR0F3A9CCOoEzE9Qo_US8ZIuwhGG39gRKm2nvNmomahoRQUwIpHqHhEYYkM

Texto escrito por : Arquitetos Avelino Oliveira, Susana Gouveia Jesus, Cláudia Gaspar, Luís Fernando Matos, Paula Torgal, César Lima Costa, Florindo Belo Marques e Pedro Novo