26/03/13

Esquinas de Fumo: situações de fronteira, diversidade social e autonomia particular

 





8:00 Broklyn. New York. 

Figuras nova-iorquinas no seu quotidiano, centradas no eixo da sua vida de bairro, a tabacaria. Enredo entrecruzado de realidades distintas que se fundem invariavelmente no mesmo lugar, a esquina. Aparentemente nada acontece, no entanto, é aí que as vivências encontram cor e se rendilham na tapeçaria de bairro. Auggie, proprietário da tabacaria, é quem imutavelmente assiste às vicissitudes das transformações quotidianas dos seus clientes. O tempo discorre e a sua natureza é permanente. Contudo, esta inércia é quebrada por um inusitado hobby: fotografar a esquina oposta da sua loja, todos os dias, exactamente às oito horas da manhã. Este invulgar gesto traduz-se num clique, sempre com o mesmo enquadramento, independentemente das condições climatéricas ou dos sujeitos visados no seu disparo. Em segredo reúne uma colecção de 4000 fotografias entre 1977 e 1990 da esquina da 3ª Rua com a 7ª Avenida, onde se revela um novo olhar sobre a vida da rua, descrito nos detalhes fugazes de vidas passageiras, tendo como pano de fundo uma desejada urbanidade nublada. Certo dia, Paul, um dos clientes em trânsito, é convidado a olhar a colecção. 

*Paul: I'm not sure I get it, though. I mean, how did you ever come up with the idea to do this ... this project? 
Auggie: Just come to me. Ity’s my corner after all. I mean, it’s just one little part of the world, but things take place there, too, just like everywhere else. It’s a record of my little spot. 
Paul: It’s kind of overwhelming. 
Auggie: You’ll never get it if you don’t slow down, my friend. 
Paul: What do you mean? 
Auggie: I mean, you’re going too fast. You’re hardly even lookin’ at the pictures. 
Paul: But... they’re all the same. Agguie: They’re all the same, but each one is different from every other one. You got your bright mornings and your dark mornings. You got you summer light and you your autumn light. You got your weekdays and your weekends. You got your people in overcoats and galoshes… and you got your people in t-shirts and shorts. Sometimes the same people, same time different ones. Sometimes the different ones become the some and the same  ones disappear. The Earth revolves around the sun, and every day, the light from the sun hits the Earth at a different angle. 
Paul: Slow down, huh? 
Auggie: That’s what I’d recommend. You know how it is. “Tomorrow and tomorrow and tomorrow… time creeps on its petty pace.”

Como supõe Auggie, é nas esquinas que se revelam os verdadeiros lugares de encontro, onde se estimula a ordem urbana e a diversidade nas vivências. Aí descobrimos uma natureza expressa em situações de fronteira, diversidade social e autonomia particular. O seu carácter hierarquizado, onde quotidianamente o colectivo não encontra lugar, conduz a vivências baseadas no acaso, regradas por frontarias que gerem tensões e desencontros. Território controlado por fachadas, que geometricamente administram as margens de liberdade do passageiro e a planificação do sistema urbano vigente. Se as esquinas subsistem, é porque a geometria urbana assim as decretou, ora na  intercepção de ruas, ora no cruzar dos alçados de uma praça. O sentido longitudinal da rua precipita o movimento entre eixos de cidade, e aí, as paragens são efémeras no tempo, transformando-se rapidamente em fluxos transitórios de pessoas, veículos e mercadorias. O perfil da rua é importante para a caracterização do aglomerado onde se insere, escalonando graduações através da sua forma, expressão ou conteúdo. A definição linear responde a uma vivência urbana onde a carapaça de fachadas nos organiza sentidos, orienta vontades e esconde desejos. As margens impenetráveis funcionam como cenário western, onde a passagem é uma constante. Se a perspectiva das ruas nos conduz para um infinito desconhecido é nas praças a si agregadas que encontramos poiso para respirar. 
Na mesma pólis, a praça na sua fisionomia aprisiona o movimento, definindo distâncias e escalas. O arauto da história sempre vaticinou a praça como espaço de agregação e manifestação colectiva, dotando-a de um simbolismo de ágora intemporal, onde o centro geométrico era ordem e declaração de intenções. A monumentalidade e o sentido político que a praça ostentou, hoje desvaneceram-se para situações de esporádicas manifestações colectivas. O princípio democrático que configurou a forma e expressão da praça, ao longo da história mutou-se para vontades narcísicas individuais ou necessidades comerciais colectivas. A falência é evidente, na capacidade de resposta às mudanças civilizacionais. 
Se as ruas e praças ao longo da história teceram um legado de uma cidade organizada, inflexível e estática, hoje são os fluxos, sobreposições e diversidades que regem o contexto urbano. Neste sentido, a cidade de hoje não se coaduna com a estática, a preguiça ou o repouso movido por largos, praças ou terreiros, onde a esfera das vivências urbanas reúne definições de território perante a diversidade cultural. Realidade urbana que não pode ser subestimada, mas alimentada e construída sobre princípios sistémicos de oportunidade e diferença. Aqui a esquina adquire um papel determinante na expressão das vidas urbanas, na definição de limites e confronto entre iguais, 
diferentes. Aquando da fundação de uma cidade na antiga Roma, o agrimensor, definido como homem casto e incorruptível, media propriedades rurais e quando necessário, era quem assinalava o primeiro ponto de uma nova cidade a ser fundada. Nesse mesmo ponto, com base em observação astronómica, projectava a primeira esquina da cidade onde se cruzariam os dois eixos principais. Este ponto sobre o campo aberto enfrentava o insondado, perante uma realidade desconhecida. Surgiam as primeiras fachadas que terminam na definição de quarteirão. As linhas geradoras proporcionam um desenvolvimento ora num aparente caos orgânico de crescimento sucessivo, ora no racionalismo da quadrícula. Nestes envolvimentos o ângulo é a fórmula com mil e uma variáveis. Em Roma, na Igreja de San Carlo alle Quattro Fontane, Borromini, na concepção da esquina, com uma configuração em dois momentos distintos entre a Via del Quirinale e a Via del Quattro Fontane, proporciona ao peregrino uma nova fase na sua caminhada. A surpresa é assim argumento e espelho da diversidade e interpretação da cidade de Roma. Os clássicos orgulhosamente escreveram nos traçados da história estratégias de definição perspéctica e organização espacial ao nível da praça de Popolo em Roma. As Igrejas de Santa Maria de Montesanto e Santa Maria dos Milagres, demonstram ser fachada teatral, esquina enquanto rótula e frente avançada na definição de praça. A simetria e assimetria confundem-se nesta profunda reflexão sobre o ângulo e a eficácia da sua natureza e sobre este tema residem alguns dos mais interessantes exemplos da arquitectura moderna europeia. No início do século XX, Adolf Loos projecta para Viena um dos edifícios mais determinantes na definição dos cânones estéticos do movimento moderno: edifico com três frentes que consolida duas fachadas de rua com a praça Michaelerplatz. Nada de mais, não fosse o palácio Imperial de Viena (Holburg), posicionar-se do lado oposto da praça. Nem sempre as propriedades geométricas foram determinantes na caracterização das esquinas. A sua estética provocadora ou controversa é por si geradora de conflitos e dinâmicas de afinidade ou diferença. Outros caminhos são percorridos por Álvaro Siza Vieira em “Bonjour Tristesse”, em Berlim. O desenho assumido na década de 80, procura contrariar a essência geométrica do ângulo, contrariando as linguagens correntes da cidade e suavizando a tensão angular. Assim proporciona suspensão, permanência e um imediato reconhecimento do “outro lado”, sem surpresas ou instantâneas tensões urbanas. No final do século XX, Frank Gehry, elabora um curioso estudo sobre o edifício “Fred and Ginger”, localizado em frente à ponte Jiraskuv em Praga. A partir do ritmo das fachadas das ruas contíguas, Gehry apronta um edifício com uma composição arrítmica, produzindo uma outra velocidade na abordagem da esquina. Este novo ritmo ao contrário de “Bonjour Tristesse” de Siza, acelera e enquadra o passo para as novas ruas. Produzse uma nova ginástica, com base na estética e geometria, o desenvolvimento do edifício em dois distintos dançarinos, a praça ganha no seu confronto e estruturação. O flanco do lado de lá, é uma realidade muito distante e diferente da que confronta com a margem do rio, altera-se o ritmo, o passo muda e a necessidade de afastamento é perene. A dança é eloquente e os dançarinos exímios. 
Os centros urbanos, sempre ávidos de movimento, luz e cor são na sua representação simbolizados ora em Times Square em Nova Iorque ou Piccadilly em Londres. Centros de esquinas, praças onde ruas desembocam em ruas. Podemos afirmar que nos centros as metrópoles encontram em realidades similares as mesmas vivências, sempre com geometrias distintas. O caminho estreita-se para articulações urbanas, estudadas e conhecidas. Mais do mesmo, talvez. As metrópoles que nas últimas décadas tem adquirido forma e expressão no sudoeste asiático e sul do continente africano, através de desregrados processos urbanísticos, geraram territórios sem referências identitárias com profundos deficits na regulação de redes de serviços e articulações estratégicas entre o centro e os dormitórios na periferia. 
Estes novos traçados urbanos carecem de referências, de reconhecimento identitário até mesmo identificação simbólica. A continuada definição do desenho das cidades contemporâneas com base em elementos charneira, nomeadamente, centros comerciais na periferia, condomínios privados de uso exclusivo, subúrbios de bairros dormitórios de movimento basculante e vias limítrofes de alta velocidade, carecem as cidades do contacto directo, do cruzamento e identificação da diferença na inclusão. É na esquina que encontramos a perenidade na lógica e resposta aos seus intentos: o reconhecimento do outro lado acaba por definir a metáfora urbana da cidade contemporânea, onde a diversidade cultural está em trânsito sob fluxos e velocidades que se mutam num suporte físico que não procura dar respostas. A esquina adquire expressão orgânica e transforma-se fundamental no desenho das cidades contemporâneas. Como diria Manuel Solà-Morales: “a definição de cidade está na soma da diferença com a consciência.” 
As esquinas na cidade apresentam formas tão distintas quanto os diversos sistemas de encontro que transformam. As suas especificidades proporcionam um valor simbólico evidente que não deve ser desprezado, ou não teria “Bonnie and Clyde” assaltado apenas bancos localizados em esquinas.


*    texto e imagens do filme Smoke (1995), realizado por Wayne Wang com argumento de Paul Auster.






21/03/13

Open Space: os limites numa perspectiva macro do privado




“Queimar livros e erigir fortificações é tarefa comum dos príncipes; a única singularidade de Che Huang foi a escala em que actuou. É o que dão a entender alguns sinólogos, mas eu sinto que os factos referidos são algo mais que um exagero ou uma hipérbole de disposições triviais. Cercar uma horta ou um jardim é comum; não, cercar um império.” [i]
Jorge Luís Borges


Muros
O que “está na frente” é etimologicamente definido pelo conceito da palavra fronteira. Numa perspectiva estritamente histórica, a sua origem nunca esteve relacionada com conceitos legais de determinação territorial nem mesmo na definição de abrangências políticas de organização zonal. Espontaneamente, a evolução da vida social produziu no decorrer da sua história conceitos de determinação de margens no nosso cosmos de relações. Determinaram-se padrões de comunicação que exigiram a definição de metas políticas entre civilizações. Por um lado, ao longo da história, o conceito de fronteira assumiu uma perspectiva expansiva na determinação referencial de lugar, sendo que o sentido de fronteira não era o de fim mas o de começo de estado. Por outro lado, para o conceito de Estado onde a soberania corresponde a um processo absoluto de territorialização, a palavra gerada para definir uma unidade territorial, ou melhor a sua ligação interna, foi a de limite. A soberania do estado determina limites sociais que comumente se traduzem em periferias territoriais.

No passar do tempo, muralhas e fortificações de defesa produziram nos territórios separações determinantes na definição cultural e no seu próprio desenho. Actualmente, no traçado planetário, em todos os continentes sem excepção, existem cada vez mais muros, embora as designações politicamente correctas sejam de “barreira de separação” ou “vedação de segurança”. Segundo Donald Steindberg, “as nações tomaram consciência dos efeitos desestabilizadores de fluxos de refugiados, tráfico de drogas, armas e pessoas que os conflitos podem transmitir através de fronteiras e através de regiões.”[ii] Existem cerca de 30 divisões físicas (na sua maioria fronteiriças) em todos os continentes que segregam raças, nacionalidades, crenças, ideias e disputas territoriais: dos EUA com o México, Irlanda do Norte, Espanha com Marrocos, Arábia Saudita com Iémen e Iraque, Israel e Gaza, Uzbequistão e Turquemenistão, India e Paquistão, Tailândia e Malásia, Brunei, Coreias, China, Rússia, entre outros. A disputa de territórios não tem fim e apresenta-se determinante para alguns no orgulho ou determinação religiosa. A esperança na realização de uma promessa de futuro, muitas vezes está do outro lado da linha, virtualidade consciente e diferenciadora, no entanto cada vez mais incapaz de controlar fluxos ou tentações. A construção física de vedações implantadas em territórios perenes na sua génese e topografia é cada vez mais uma constante. O controlo do espaço jurídico e político obrigou ao longo do tempo a construção de barreiras que permitiram a desenvoltura de estruturas e sociedades que determinaram diferentes ocupações de território, apesar de se confinarem por muros, sendo exemplo o muro de separação da Alemanha até 1989. A uma escala geográfica de macro dimensão é possível perceber o quanto estes limites são condicionadores das realidades urbanas de cada região ou país. Perante uma realidade de unificação e cooperação entre estados de que a Europa é exemplo, na constituição de uma definição de território sem controlos fronteiriços, assistimos por outro lado, a uma época de criação de gigantescas estruturas físicas de definição territorial no resto do planeta.

Érouv   
Segundo a lei Judia, durante o Shabat (sábado), observado a partir de alguns minutos antes do pôr-do-sol na sexta-feira à noite até o aparecimento de três estrelas no céu na noite de sábado, é obrigatório o repouso a consagrar o eterno. O Shabat é um dia festivo em que os judeus são libertados dos trabalhos regulares da vida quotidiana, oferecendo uma oportunidade de contemplar os aspectos espirituais da vida e a despender tempo com a família. A observância do Shabat implica abster-se de uma série de actividades proibidas, como trabalhar ou transportar qualquer tipo de objecto de casa para o exterior. No entanto se nos remetemos ao Torah, um povo ou uma cidade rodeados de um muro com portas são considerados como domínios privados, e consequentemente qualquer pessoa pode transportar objectos da sua casa para a rua e da rua para o interior da habitação. Existe assim uma clara transferência de função espacial entre a casa e a rua. No entanto, são poucas as cidades judias que ostentam muralhas, sendo para a generalidade dos judeus nula qualquer tipo de actividade durante esse período. Contudo existe uma excepção à lei, os Érouv. Os Érouv são estruturas de cordas que definem um muro imaginário em que na maioria dos casos são postes improvisados e interligados entre si num perímetro em torno da região. Quando definido o perímetro, o Érouv converte o espaço público em espaço privado, permitindo a partir de então o transporte de objectos durante o Shabat. Segundo a Torah, a região, durante o Shabat e dentro do perímetro previamente definido adquire um carácter privado. A casa  a partir de então transborda os seus limites para a rua confrontando o habitante para uma realidade expansionista dos usos domésticos e quotidianos à escala do urbano.

Alphaville
O Brasil actualmente enfrenta níveis de criminalidade elevados e neste momento torna-se fundamental o controlo expansionista de bairros ou favelas de população de níveis sociais mais desfavorecidos. O governo estadual do Rio de Janeiro para além do esforço na formação e criação de mais forças policiais está a edificar muros de betão nas periferias das favelas. Estratégia que visa impedir a expansão dos bairros clandestinos para territórios próximos de condomínios de luxo privados. A medida é criticada por se entender que segrega os pobres e consequentemente os esconde do turismo, no entanto, apesar das críticas, continuam a ser edificados. Desde algumas décadas que estratégias similares ocorrem em território brasileiro, no entanto numa lógica inversa de controlo. Nos arredores de São Paulo na década de 70 criou-se o conceito de Alphavilles. Face ao aumento da criminalidade, insegurança no interior das cidades densamente ocupadas, poluição e congestionamento rodoviário, geraram-se condomínios privados de luxo de forma a oferecer aos mais abonados qualidade de vida em segurança e conforto. Este tipo de condomínios são hiper-protegidos por uma organização policial interna com corpos de patrulha e edifícios de segurança internos. As Alphavilles estruturam-se em condomínios (residenciais) circundados por áreas abertas de livre acesso onde se localizam sedes de multinacionais, escolas, serviços e comércio. Em dicotomia com o sossego, pacatez e quietude do interior dos condomínios, as zonas de livre-trânsito apresentam hora de ponta, assaltos e violência urbana. Para muitos urbanistas, Alphaville define-se como um gueto entre muros e segurança privada, que isola e promove uma espécie de apartheid social ao estimular a convivência apenas entre pessoas da mesma classe social. A segurança privada aliada ao arame farpado edifica uma redoma sobre um estado social em que o urbano é constituído de uma cenográfica realidade. A segurança que encontramos no refúgio do lar é transportada para o ambiente de rua, no entanto divergente do urbano circundante. O bairro numa escala de aproximação muta-se na casa e o cenário do aquário eleva-se à perfeição.    


Open Space

“Humpty Dumpty estava sentado, com as pernas cruzadas a la turca, em cima de um alto muro tão estreito que Alice se perguntava como ele podia manter o equilíbrio…”[iii]

A vertigem sobre o muro é perene e no contexto do urbano é no privado que provavelmente se encontra o equilíbrio. A fronteira permeável ao contexto transporta invariavelmente cada vez mais a produção de dinâmicas internas para processo habitacionais exteriores, e vice-versa. A questão urbana na Polis por nós identificada desconstrói-se dos princípios de centralização no lar. Este sentido edifica-se na tipologia cada vez mais ampla em menores perímetros e diluída de funções. As novas interacções relacionais assentes na “tecnopolis”, produzem experiência da velocidade e a transformação do conceito-espaço-tempo na vida quotidiana. Segundo Cornelius van de Vem[iv]  o espaço dá prioridade à unidade espácio-plástica de interior e exterior e à assimilação não hierárquica de todas as formas instrumentais, independentemente da sua escala ou retórica, numa experiência contínua da relação espaço-tempo. Segundo Kenneth Frampton[v] é neste sentido que se constrói a “metáfora corpórea” onde “o corpo reconstrói o mundo através da sua apropriação táctil da realidade”.
Na definição das diferentes escalas existe uma constante necessidade de divisão, fraccionamento e regramento do território. Supõem-se que no privado a questão é mais serena. A definição de limites territoriais é cada vez mais constante quando os mesmos adquirem definição politica, religiosa ou social no caso da segurança. As fracturas exigem-se e pretendem-se eternas. Constata-se que o habitante urbano apolítico encontra no contexto de cidade resposta a necessidades, antes exclusivamente do lar. A cidade complexificou-se e adquiriu a dimensão do particular. O homem urbano adquiriu consciência das suas diferenças e da sua unicidade. Uma realidade do construído que se expande e contrai vive da dimensão do limite como resposta às nossas necessidades. Segundo esta nova realidade pretende-se criar o contraponto entre os desejos de expansão e as necessidades de contracção do homem contemporâneo. O privado, numa crescente minimização da sua dimensão, encontra na tecnologia e na cidade a fuga para os seus limites. Em resposta a esta condição, o seu perímetro privado redefine-se sem fronteiras entre funções. Os espaços exclusivos de repouso são agora também eles de refeições, lazer ou higiene. O Open Space hierarquizou as funções. Os limites encontram-se na definição do conforto térmico ou no controlo lumínico para com o exterior. O privado é perene mas perante o urbano complexificou-se. O Open Space é agora o nosso próximo limite.    




Obras Citadas:
[i] Borges, Jorge Luís. Obras Completas, volume 2 – Lisboa, Editorial Teorema, 1998.(2)  Jornal Expresso, Revista Única nº 1931, 31 de Outubro 2009
[ii] Jornal Expresso, Revista Única nº 1931, 31 de Outubro 2009
[iii]Carrol, Lewis.Alice do Outro Lado do Espelho, Lisboa: Edições Relógio DÁgua, 2000
[iv]Frampton, Kenneth. Studies in Tectonic Culture: The Poetics of Construction in the Nineteenth and Twentieth Century, The MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 1995.
[v] Frampton, Kenneth. Studies in Tectonic Culture: The Poetics of Construction in the Nineteenth and Twentieth Century, The MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 1995.

Bibliografia:
- Bachelard, Gaston. A poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1998 .
- Barata, Paulo Martins. Introdução ao estudo da Cultura Tectónica, Kenneth Frampton 1995. 
- Goethe, Johann Wofgang von. Werther. Trad. João Teodoro Monteiro. Lisboa: Guimarães Editores; 1993.
- Imagem de Rodney Smith, www.rodneysmith.com
- Machado, Lia. Limites, Fronteiras e Redes. T.M.Strohaecker e outros. Fronteiras e Espaço Global. Porto Alegre, p. 41-49, 1998
- Martins Barata, Paulo. Álvaro Siza 1954-1976. Lisboa: Blau, 1997.
- Schuiten e Peeters. La Frontiere Invisible, Tome 1.Brusels,Casterman, 2002 .