31/07/19


Carlo Sainz e a berma da estrada

Há mais de uma década, em pleno Bairro Alto, entre cerveja e tremoços, discutia com um grande amigo de faculdade os caminhos a lavrar na arquitectura e como desejávamos seguir os nossos percursos profissionais. Entre muitos disparates e armadilhas fonéticas, no intuito de consubstanciar um determinado raciocínio, esse meu amigo, relatava com entusiasmo uma história que faz este ano, tal como a ANTEPROJECTOS, precisamente 25 anos.

Contava ele que na década de noventa, o Mundial de Rallys era intensamente disputado entre três ou quatro figuras de inigualável mérito, nomeadamente Tommi Makinen, Colin McRae, Diddier Auriol ou o Carlos Sainz. O sempre apreciado Rally de Portugal servia como cenário para capas dos diários da altura e em 1995, após um disputado Rally de Portugal, o fabuloso Carlos Sainz, ao volante do não menos fabuloso ícone azul e amarelo, Subaru Impreza 555, sairia vencedor com alguns segundos de vantagem sobre Kankkunen. Terá sido uma prova dura, com muitos problemas de tracção e com diversos embates contra separadores, muros e protecções de berma de estrada. Após a conquista do troféu, no último troço de estrada, Carlos Sainz foi confrontado com uma série de perguntas rápidas, por um jornalista de ocasião. Entre muitas, ao meu amigo, ficou-lhe na memória: “Como conseguiu ser tão rápido e vencer esta prova após tantos embates, saídas e constante circulação nas bermas?” Sainz ainda regado pelo champanhe e com a coroa de flores em ombros respondeu entusiasticamente: “Não é nenhuma estratégia ou táctica na condução para a vitória! É simplesmente porque as bermas também fazem parte da  estrada”.

Ainda hoje não sei se a história é verdadeira ou se é tal e qual como foi contada, contudo, aquilo que retenho é que passados 25 anos, esta história representa para mim, o percurso de vitória da revista ANTEPROJECTOS. Foi nas margens que construiu um percurso sólido alicerçado na estrutura da linha editorial, diferenciado pela diversidade nos artigos de opinião e coerente na firmeza das marcas que ai encontram espaço de divulgação. A sua maior virtude, é o seu eclectismo na representatividade da generalidade das dinâmicas ligadas à indústria da produção de projecto, nunca se refugiando em nichos ou lóbis dominados por um star system démodé. Uma base editorial de peito aberto sobre o mercado onde soube dar significado, permitindo-se representar franjas que carecem de visibilidade. A competição não pode ser esquecida, mas só aqueles que são determinados no seu caminho e na constância das suas acções poderão almejar vencer, pela “berma da estrada”, os desígnios do seu trabalho.

Parabéns à ANTEPROJECTOS.