Por estes dias, o
panorama social e económico oferece uma difícil realidade para todos aqueles
que vivem e sobrevivem da arquitectura, como de pão para a boca. Muito se fala
da emigração obrigatória para quem ainda procura continuar a viver das plantas
e das maquetas ou da opção na senda de outros caminhos, diametralmente opostos,
para os desanimados com a realidade da própria profissão. As dificuldades na
construção, com a consequente diminuição da encomenda, permitiu deixar o
elevado número de profissionais no território nacional desalojados de trabalho
e perspectivas. Perante este cenário, acresce mais um factor descuidado pela
opinião pública e mais propriamente pela própria classe: a dificuldade em
perceber no seio dos arquitectos que os mesmos, perante a ambição da autoria,
não conseguiram entender que era na associação e na criação de grandes
escritórios de associados que estava o caminho para o sucesso. Por outro lado,
o ensino das últimas décadas, alicerçado por professores na sua maioria com
escritórios próprios, estruturou profundamente o pensamento dos alunos nesse
anseio da arquitectura de autor.
A dificuldade na
associação não se encontra nesta nova geração que face às dificuldades teve de
reconhecer e enveredar por este caminho. Dos arquitectos não emigrantes
sobrevivem por cá: os “agarrados” ao ensino, os com ancoras à encomenda
estrangeira em particular das Áfricas, os que em boa hora se associaram e
criaram forças suplementares ou os que se reinventaram dentro do universo da
arquitectura.
Quando se fala em
reinventar, não passa obrigatoriamente por encontrar novos caminhos fora da
profissão. Sou crente que a nossa formação nos apetrechou de uma série de
ferramentas que nos permitem descobrir fórmulas para desenvolver trabalho fora
do espaço do escritório em áreas como a cenografia, curadoria, gestão cultural,
desenvolvimento de projectos expositivos, pedagogia, divulgação cultural,
ilustração, organização de eventos, elaboração de artes aplicadas, de
certificação energética, avaliação imobiliária, consultoria, gestão de obra,
topografia, entre outras… ou até mesmo o desenvolvimento de projectos sociais
das mais diversas naturezas. A exposição Tanto Mar, actualmente patente no
Centro Cultural de Belém, revela na sua génese uma panóplia de intervenções em
todo o mundo com forte carácter social. Algumas das intervenções são
desenvolvidas por escritórios sediados em território nacional, outras providas
das dificuldades de quem teve de emigrar para se sustentar, contudo encontrou
nessa nova realidade espaço e oportunidade para desenvolver projectos (não
obrigatoriamente de arquitectura) comungando com as comunidades locais um
futuro mais risonho.
Temos de encarar
este futuro incerto numa perspectiva aberta, sem esperar que uma Ordem, muito
pouco musculada, possa ser auxílio ou que governantes possam instruir alavancas
no universo da construção. Perante este cenário, se ao leitor enquanto
arquitecto este discurso soar a ridículo e desprovido de contexto ou de senso
na realidade, carpe diem!
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