Em Portugal, para a grande maioria das pessoas o
arquitecto ainda é o alfaiate de fato à medida, que olha para o cliente como
estrela cintilante dos palcos pop. Entendem-no como artista de devaneios que cria casas onde não
se pode morar. Casas para os flashes das
revistas. Não podiam estar mais errados! A profissão não é hermética e as áreas
de intervenção abrangem um espectro muito largo para além das áreas
directamente ligadas ao projecto, tornando-a assim complexa na sua
interpretação. A ideia estereotipada do arquitecto-artista que opera apenas
para uma classe endinheirada é pensamento pouco esclarecido sobre a importância
do papel da arquitectura nos desígnios das nossas vidas. Profissão que
necessita de relações humanas e sobretudo da boa vontade, dedicação e
competência de centenas de intervenientes nas mais diferentes especialidades
para que a obra chegue ao fim... Sim, sim... Que chegue ao fim!
Se na última década os gabinetes de arquitectura têm dados passos tímidos nos
processos e metodologias de projecto para que o mesmo possa ser mais operativo
entre especialidades e ausente de erros, será a pandemia do Covid-19 o
acelerador dessa uniformização? Irá a obrigatoriedade de trabalho a partir de
casa provocar a revisão e adaptação destes mesmos processos e metodologias ,
assim como na reorganização do trabalho em equipa? Irá o espaço de atelier,
lugar de discussão e partilha, onde no confronto surgem as melhores
ideias, desvanecer para o espaço
virtual? Estaremos perante o fim das tipologias tradicionais de escritórios?
Será este factor importante na gestão dos custos de projecto tornando o
projecto de arquitectura mais apetecível financeiramente para o cliente?
Esta experiência global, apesar de surpreendente, obrigou a toda uma estrutura
societária a permanecer em casa, provocando a reflexão generalizada nos
processos e rentabilidade dos sectores directamente associados aos serviços. Se
no final do ano passado, a Microsoft garantia níveis de rentabilidade
superiores quando os seus funcionários usufruíssem de fins-de-semana de
descanso com três dias, porque não agarrarmos a oportunidade promovida por esta
experiência forçada?
São muitas as perguntas sem respostas
imediatas, acredito que algo acontecerá, mas nunca revolucionário! Será sim um
momento de análise e reposicionamento sobre as metodologias através de
ajustamentos que se reflectirão em apenas mais um passo nos caminhos que
estávamos todos a trilhar. No entanto, estou certo que esta pandemia embaterá
com tal violência e de modo tão veloz que será ela própria, o crivo que separará
o trigo do joio neste sector tão frágil.
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