Para Kenneth Frampton, o edifício, é em primeiro lugar um acto de
construção, um processo tectónico e não uma actividade cenográfica. Nesta
medida Frampton define a “essência” da arquitectura sustentada no entendimento
de que a estrutura do edifício é em si mesmo a essência da forma
arquitectónica. Reconhecidamente um pensamento de finais do século XX, mas que
cada vez mais, perante o descontrolo das massas consumistas e ávidas da imagem,
tende a ser esquecido e talvez actualmente ajustado à nossa realidade
mediterrânea. O cuidado pelo que é nosso deverá ser adaptado a linguagens
actuais e comummente aceites, onde “a promoção de valores de registo local, ao
nível da linguagem internacional” deverão ser potenciados clarificando a nossa
atitude na construção e na escolha das técnicas construtivas ou materiais a
implementar. Pretende-se clarificar, mais do que aceitar uma universalização
cultural, é de todo imperativo uma profunda validação dos valores culturais
regionais que tem de ser reavivados perante uma consciente adaptação da
internacionalização mediática. Cada vez mais, conceber uma arquitectura moderna
alheia a linguagens, movimentos e a modas é mais difícil, não só pela pressão
económica do “construir rápido”, mas pela impreparação dos quadros técnicos que
se rendem ao facilitismo da “renderização” produzindo consequentemente objectos
imaturos e descontextualizados da sua realidade!
O protótipo do arquitecto moderno coloca, a meu ver, um tremendo ênfase sobre a “skin” do edifício, desleixando a estrutura que incorpora, a forma tectónica e os aspectos espaciais do edifício. Começam a carecer os edifícios contemporâneos compostos pelo “espaço da aparência” que Hannah Arendt define. Perante esta realidade, actualmente, assistimos a um desenvolvimento a uma espécie de tectónica com um potencial baseado na construção através de processo e mecanismos suportados por rigor tecnológico e geometria complexa baseada em desenhos paramétricos.
O adequado detalhe construtivo e a justa aplicação do material para cada situação, em oposição à definição da ideia da imagem e espaço, são hoje um desafio para a determinação de novas formas de representação tectónica. A cultura arquitectónica ainda olha para esta perspectiva Heideggeriana enquanto uma crítica tecnológica e relutante em abraçar a tecnologia digital, contudo apesar da compreensão dos sistemas construtivos e da sua eficiência na produção de imagens não podemos permitir que o actual extenso mar de possibilidades construtivas nos encadeie e permita que a expressão arquitectónica se sujeite a modas em desrespeito do homem habitante.