A investigação, agora publicada, de Rodrigo
Rebelo de Andrade e Duarte
Pape, talvez seja a mais
interessante novidade editorial dentro da esfera da arquitectura. O que mais
surpreende nesta aposta é a forma como o trabalho de investigação foi
“manipulado”, se por um lado a editora não deixou de transformar o estudo dos
dois arquitectos num valioso instrumento de trabalho para estudantes e
arquitectos, por outro proporciona aos amantes de África e da história colonial
portuguesa um binóculo sobre o arquipélago. Esta abordagem agora publicada,
assume uma rotura com o universo de publicações antes produzido sobre a arquitectura
luso-colonial africana quase exclusivo a Angola e Moçambique. Territórios como
Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe apesar das incursões de Ana Vaz
Milheiro e Eduardo Costa Dias, ainda estão por descobrir. Este documento mais
do que um inventário, tal como assumem os autores no seu sexto capitulo, é
fundamentalmente um enquadramento do café no arquipélago e em toda a orgânica
tipológica e programática neste contexto social gerado em torno desta
“especiaria”. As roças no seu edificado representam uma época auspiciosa de um
legado desenvolvido com diversidade formal e de escolha acertada dos materiais
no desenvolvimento da construção. Para além dos 122 exemplos identificados, o
enquadramento geográfico explanado permite uma leitura num perfil historicista
mais adequado às relações sociais e económicas ali desenvolvidas. Perante um
património pouco preservado e sem qualquer cuidado governamental, os autores
perspectivam o caminho a travar, apostando fundamentalmente em processos de
recuperação e preservação da riqueza patrimonial encontrada. Publicação de
leitura fácil e de valor incomensurável não só pela descoberta de tão
“distante” e valioso património como pela consubstanciação de um extraordinário
legado fotográfico do arquitecto e fotógrafo Francisco Nogueira. Assumo paralelamente a mesma perspectiva de
José Manuel Fernandes no seu prefácio, onde menciona que esta obra representa o
estudo editado “mais aprofundado, inovador, esclarecido e polifacetado” sobre o
tema das roças em São Tomé e Príncipe. Para o leitor-arquitecto fica a faltar o
registo técnico detalhado ou levantamento circunstancial ajustado às suas
expectativas. A estrutura e beleza das “Roças de São Tomé e Princípe”,
permite-nos a espera por mais um degrau na investigação, posteriormente com a
coordenação de José Manuel Fernandes neste belíssimo trabalho conjunto de três
jovens arquitectos da geração que agora emigra.