Revista Anteprojectos - Edição de Maio de 2014
A
25 de Julho de 1967, o chefe de Estado, Almirante Américo Thomaz acompanhado de alguns ministros e do
General França Borges, à época, presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
inaugurava as piscinas municipais dos Olivais em Lisboa com pompa e circunstância. Inauguração com grande festa e demonstrações de natação, ainda a tempo de
receber, dias depois, o Torneio das Seis Nações (com a participação da Bélgica,
Espanha, Noruega, País de Gales, Suíça e Portugal). Aníbal Barros da Fonseca e
Eduardo Paiva Lopes, pais do projecto, não poderiam estar mais felizes com a
concretização das primeiras piscinas municipais na cidade de Lisboa. O projecto
era composto por uma piscina de 50 metros com condições olímpicas para receber
competições internacionais, um tanque de saltos acompanhado de uma estrutura de
para saltos de desenho relevante e singular, e um edifício de apoio para
balneários, serviços, maquinaria e manutenção. Mais tarde, Keil do
Amaral e José Pessoa desenhavam os complexos do Campo Grande e do Areeiro respectivamente,
proporcionando à cidade, para além de equipamentos dotados de qualidade
funcional, obras de relevância estética.
Contudo,
e perante o quadro dos arquitectos descritos, gostava de dar relevância ao
arquitecto Eduardo Paiva Lopes. A sua intervenção nas piscinas dos Olivais é
notável, sabendo que não muito longe dali, projectou em conjunto com mais três
colegas os edifícios do Hotel Lutécia, do Teatro Maria Matos e do Cinema King.
Também aqui, à imagem dos Olivais, um conjunto de equipamentos de qualidade,
facto agora assinalado a quando do levantamento do património arquitectónico do
séc.XX. O processo de levantamento acabou por se tornar numa ferramenta de
protecção, preservação e defesa deste património, datado mas com qualidade
“vintage”. Em 2006 e 2007, a arquitecta Helena Roseta no seu papel enquanto
vereadora levantou a sua voz na defesa da obra dos Olivais, apeasar do esforço,
a futura intervenção, através do projecto de origem castelhana para
reestruturação do actual “Complexo Desportivo dos Olivais” traduzir-se-à na
completa desfiguração e desrespeito pelo objecto original.
Recentemente
fui confrontado com a possível demolição de outro edifício da autoria de
Eduardo Paiva Lopes, a casa dos Magistrados na cidade do Fundão. Edifício residencial
que servia de residência aos magistrados colocados na Comarca do Fundão. Prédio
localizado na avenida central, em propriedade total com dois pisos de uso
independente. Apresenta uma fachada poente com sistema de portadas em madeira
muito interessante e inovador na região, apresentando uma orgânica funcional na
procura da luz e na gestão das dinâmicas quotidianas. Peça de valor
inquestionável e que vive, também ela, no impasse da demolição. Perante esta
afronta à dedicação e memória de Eduardo Paiva Lopes, vale o prémio Valmor
atribuído pelo município de Lisboa, ao edifício do banco Credit Franco Portugais no já longínquo ano de 1985.