Carlo
Sainz e a berma da estrada
Há mais de uma década, em pleno
Bairro Alto, entre cerveja e tremoços, discutia com um grande amigo de
faculdade os caminhos a lavrar na arquitectura e como desejávamos seguir os
nossos percursos profissionais. Entre muitos disparates e armadilhas fonéticas,
no intuito de consubstanciar um determinado raciocínio, esse meu amigo,
relatava com entusiasmo uma história que faz este ano, tal como a
ANTEPROJECTOS, precisamente 25 anos.
Contava ele que na década de noventa,
o Mundial de Rallys era intensamente disputado entre três ou quatro
figuras de inigualável mérito,
nomeadamente Tommi Makinen, Colin McRae, Diddier Auriol ou
o Carlos Sainz. O sempre apreciado Rally de Portugal servia como cenário
para capas dos diários da altura e em 1995, após um disputado Rally de Portugal,
o fabuloso Carlos Sainz, ao volante do não menos fabuloso ícone azul e
amarelo, Subaru Impreza 555, sairia vencedor com alguns segundos
de vantagem sobre Kankkunen. Terá sido uma prova dura, com muitos
problemas de tracção e com diversos embates contra separadores, muros e
protecções de berma de estrada. Após a conquista do troféu, no último troço de
estrada, Carlos Sainz foi confrontado com uma série de perguntas rápidas, por
um jornalista de ocasião. Entre muitas, ao meu amigo, ficou-lhe na memória: “Como
conseguiu ser tão rápido e vencer esta prova após tantos embates, saídas e
constante circulação nas bermas?” Sainz ainda regado pelo champanhe e com a coroa
de flores em ombros respondeu entusiasticamente: “Não é nenhuma estratégia ou
táctica na condução para a vitória! É simplesmente porque as bermas também
fazem parte da estrada”.
Ainda hoje não sei se a história é verdadeira ou se é tal e qual como foi contada, contudo, aquilo que retenho é que passados 25 anos, esta história representa para mim, o percurso de vitória da revista ANTEPROJECTOS. Foi nas margens que construiu um percurso sólido alicerçado na estrutura da linha editorial, diferenciado pela diversidade nos artigos de opinião e coerente na firmeza das marcas que ai encontram espaço de divulgação. A sua maior virtude, é o seu eclectismo na representatividade da generalidade das dinâmicas ligadas à indústria da produção de projecto, nunca se refugiando em nichos ou lóbis dominados por um star system démodé. Uma base editorial de peito aberto sobre o mercado onde soube dar significado, permitindo-se representar franjas que carecem de visibilidade. A competição não pode ser esquecida, mas só aqueles que são determinados no seu caminho e na constância das suas acções poderão almejar vencer, pela “berma da estrada”, os desígnios do seu trabalho.
Parabéns à ANTEPROJECTOS.