A nossa contemporaneidade solicita constantemente soluções a nível global
e nesse sentido, o papel do arquitecto é permanentemente decisor dos contornos
que as nossas cidades enfrentam. O crescimento em altura promoveu uma
construção de maior número de unidades habitacionais por metro quadrado,
obrigando consequentemente a diminuição do espaço habitacional. O
desenvolvimento digital conseguiu devolver ao espaço o seu lugar, tornando-o
agora sim habitável. As estantes de livros mutaram-se em bytes, o ter no
usufruir, o estar no “poder ir” e
o telemóvel na máquina de teletransporte. O habitar evoluiu para uma lógica de
espaços reduzidos, no entanto sem diferenças substanciais na organização e
dinâmica vivencial interior. Se o apetite pelo centro a isso obrigou, a cultura
consumista e a exposição aos meios de comunicação potenciaram novas formas de gestão
do programa residencial. Os materiais
construtivos, a artificialização de climatização e as redes de informação
possibilitaram ao mesmo edifício a sua edificabilidade em qualquer centro
urbano planetario, sem alterações construtivas, ordem estética ou orgânica
funcional. Perante este cenário
de uniformização global do centro urbano, deveremos olhar para a construção em
territórios periféricos e despoluídos do ruído cosmopolita com atenção e cuidado. A
aplicação de técnicas construtivas locais adaptadas ao conhecimento científico,
e estratégias na construção alicerçadas em estéticas contemporâneas, revelam-se
cada vez mais interessantes. Perante estas problemáticas é fundamental garantir
a sustentabilidade da construção neste contexto em que a ecologia é
determinante e decisora. Os custos de impacto ambiental relativos ao sector da
construção têm de ser reduzidos e optimizados. Em resposta a esta necessidade a
construção terá que procurar materiais e técnicas construtivas produzidas
através de processos simples e pouco consumidores de recursos energéticos na
utilização de matéria-prima. A construção em terra cada vez mais, nestes
contextos territoriais, tende a adquirir um papel importante pela sua
abundância enquanto matéria-prima onde a sua utilização carece de processos de
transformação dispendiosos em termos energéticos, apresenta um óptimo
comportamento térmico é reciclável e reutilizável.
No nosso contexto nacional, o clima seco do Sul do país é extraordinariamente favorável à utilização de técnicas
construtivas em terra. As raízes culturais de utilização desta técnica, a
possibilidade de criar um desenvolvimento sustentado e o entendimento desta
técnica como uma alternativa ambientalmente eficaz, podem ser fundamentais para
o ressurgimento de uma nova vaga na construção conseguindo suplantar este ciclo
negativo da construção sintética.
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