Entre gerações reconheceram-se lógicas
conceptuais, princípios e regras deterministas de estéticas. Foi assim que se
definiram correntes e metodologias. Nas ultimas décadas, a chamada escola do Porto esbateu-se no percurso
académico e científico do estudo arquitectónico português. As referências
existem, mas o bastião da resistência esfumou-se entre as novas tecnologias e
velocidade de informação. O academismo aprisionou-se na história e não soube estender
a vela ao sabor dos ventos. O advento das novas tecnologias digitais permitiu
uma profunda revolução no entendimento da “verdade” da realidade. Em
sobreposição ao desenho, a incontinência do disparo digital que proporcionou
uma capacidade quantitativa, carregando as imagens com uma superficialidade que
responde proporcionalmente aos fenómenos de mediatização tomados por modas e
tendências. Os factos antes insofismáveis, que perante o olhar do fotógrafo
eram captados para suportes de posterior reprodução, são hoje manipulados
através de processos de “limpeza” ocultando ou acrescentando elementos
observados. Projectando o fundamental da analise critica da obra construída,
“no depois”. A coerência arrefeceu nos flashes de uma vontade
descomprometida. No esquecimento reside o papel do mérito fotográfico, onde
está recolhido o olhar do fotógrafo. A sua capacidade comunicativa será
fundamental para o verdadeiro entendimento da realidade objectivada.
A fotografia de arquitectura
sem um enquadramento artístico ou jornalístico permite-lhe navegar em terra de
ninguém, conduzindo o fotógrafo à manipulação de uma verdade por nós
desconhecida e provavelmente nunca comprovada. A leitura fotográfica acrítica,
em negação da imagem propagandista onde o reconhecimento autoral é assumido,
não passa de um conceito estético enquanto meta inacessível. O star
system da arquitectura não abdica da “conclusão” da sua obra sem o
olhar do “autor” fotógrafo, impondo este, uma marca própria, formatando ou
ficcionando a obra ao seu jeito. Por outro lado, essa mesma personalização
tenderá, perversamente, a homogeneizar também o modo como vemos o “estilo” das
diferentes arquitecturas. Actualmente, a vontade de ser reconhecido entre
muitos, faz da encomenda da reportagem fotográfica como o mais eficaz veiculo
de difusão cultural e massificação mediática entre profissionais, estudantes e
demais interessados no tema. Entre arquitectos, a qualidade final da obra é
esbatida no “traço” do disparo do fotógrafo. O papel e influência que alguns fotógrafos
desenham entre editores e revistas da especialidade delimitam um star
system em que a qualidade da obra provavelmente não corresponde aos
pergaminhos que o enquadramento fotográfico e editorial potenciam. Perante
nefasta realidade, o monopólio da mediatização tem de ser interpretado e
clarificado no escrutínio da qualidade. A dúvida subsiste!
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