A revista EVA, referência editorial nacional entre as décadas de 30 e 60
do séc. XX, através de uma periodicidade semanal aborda temas como a moda
feminina, cosmética, decoração e a vida social do país inclusive a monarquia
europeia. No intuito de alavancar vendas e projectar a sua visibilidade sobre o
grande público, oferece através de sorteio por cupões, variados objectos ou utensílios
de prata, casacos de “vison” ou até mesmo automóveis. Luís Cristino da Silva por
esta altura (década e 30) via o cineteatro Capitólio terminado, iniciando um
arranque fulgurante da sua carreira profissional. O arquitecto encontra
visibilidade em jornais de época e algumas revistas “socialites”. A linha
editorial da revista EVA descobre nesta nova arquitectura
"Modernista", ligeiramente internacionalista e imbuída das novas
ideias racional-funcionalistas que por esta altura atravessavam a Europa, um
meio para se iniciar no seio dos leitores masculinos e alargar o seu espectro
editorial de referência social. No decorrer do Natal de 1933, ainda nos
rescaldos do fim do regime ditatorial militar e numa perspectiva de nova vida
cívica em torno da aprovação da Constituição, surgia no panorama arquitectónico
nacional, talvez dos casos mais inusitados da sua história. A revista EVA no
seu número de Natal sorteia uma moradia a construir pela construtora Amadeu Gaudêncio
com projecto de autoria de Luís Cristino da Silva. O sorteio funciona num
esquema claro e sem espaço para malabarismo: o felizardo que possua a revista em
que o número do seu cupão coincida com o primeiro prémio da lotaria nacional do
natal de 1933 terá a oportunidade de construir a respectiva casa sem encargos,
em terreno na sua localidade natal. Caiu a sorte a uma família da vila do
Fundão na Beira Baixa.
O que
torna a situação singular é o facto de o projecto surgir no interior da revista
através de perspectivas, desenhos em sistema axonométrico e plantas, concebido
sem prévia definição de lugar ou enquadramento. É construído com reduzidas alterações
apesar do lote de terreno não apresentar as configurações pré-estabelecidas no
projecto inicial. Apesar desta atitude projectual “moderna”, a estética
"tradicionalista" de cariz neo-conservador atravessará toda a década
de 30 do séc. XX, consolidando-se posteriormente em torno de si uma discussão
ao nível de uma doutrina pro-regionalista sustentada mais visivelmente por Raul
Lino nas suas “Casas Portuguesas” de 1933. Está estética vinga e consolida-se
com o Estado Novo. Apesar da conjuntura e a estória em torno da sua construção,
a casa Florida, mais conhecida por casa EVA, acaba por se revelar como um dos edifícios
mais interessantes do “modernismo” fundanense sustentado por outras obras de
Carlos Ramos, Eduardo Paiva Lopes ou Pires Branco.