Sempre assim foi e
talvez, sempre assim será, o universo das artes construiu em torno de si
narrativas complexas que desmaterializam o contexto ao seu redor e aí, a
arquitectura sempre foi entendida enquanto uma arte completa, assumindo desde
sempre um papel fundamental nas reflexões sobre condição humana. Um incontornável
barómetro da nossa contemporaneidade e reflexo do desenvolvimento tecnológico no
domínio do construir. A sua complexidade sempre indissociável da capacidade
criativa de quem desenha e da disponibilidade financeira da encomenda, trilhou
caminhos sempre próximos das outras artes, revelando mesmo assim, níveis
semelhantes de coerência. O espaço de reflexão contido na arquitectura e
gerador de uma estrutura de pensamento dissociado da sua realidade, apesar das
retóricas dominantes, sempre convergiu numa análise realista sem perspectivar
com segurança o futuro. Se na palavra escrita os caminhos nunca foram traçados
sobre “rama verde”, já no campo da “palavra
desenhada” os sonhos sempre fluíram na ponta da caneta.
A “não encomenda” sem as
normais contingências financeiras, programáticas ou até mesmo estilísticas
permitiram ao arquitecto dar passos largos sobre caminhos nunca trilhados. Nesta
plataforma do operar em projecto, os concursos de ideias são sem sombra de
dúvida o sistema que melhor permitiu o desenvolvimento das repostas mais
musculadas no eixo das coordenadas da utopia. Possibilitaram uma liberdade
segura mas descomprometida sobre os desafios propostos, gerando soluções que em
outro contexto seriam uma impossibilidade.
Perante a estruturação de
uma série de premissas num objecto arquitectónico com base no desafio da
corrida contra o tempo, as novas tecnologias viabilizam a capacidade de
resposta assim como a qualidade das mesmas. As novas tecnologias associadas à
computação e ao desenho assistido por computador, são hoje uma natureza
insofismável. Permitem a desenvoltura do pensamento arquitectónico sobre
ferramentas, antes desconhecidas, de estruturação das lógicas de espaço/tempo.
A capacidade de execução rápida na construção das realidades pensadas, aliada
ao acesso de informação na internet é hoje matéria de estudo relativamente às
consequências que provocam na definição das linguagens globalizantes, nas
realidades regionalistas e sobretudo no pensamento arquitectónico
contemporâneo. A arquitectura globalizou-se no eixo da informação e degenerou
na concepção da sua natureza, hoje as respostas aos desafios actuais são cada vez
mais efémeras, portáteis e sem perenidade, talvez por isso, os concursos de
ideias nunca fizeram tanto sentido. É nestas dinâmicas de desafio/resposta que poderemos
reposicionar o enquadramento social, político e económico da arquitectura perante
a nossa sociedade.
A sociedade do espectáculo
mutou-se numa realidade virtual onde o “star
system” se descentralizou e adquiriu novos protagonistas. Os papéis foram
trocados e agora quem dá as cartas são “ateliês de algibeira” ou de “vão de
escada”. A democratização dos papéis dos principais actores estabeleceu-se na
corrente das novas tecnologias de informação, permitindo dar voz a qualquer um
sem constrangimentos económicos ou sociais. É nestes processos de reorganização
do cenário mediático em torno da arquitectura,
que encontramos a importância dos concursos de
ideias para quem começa a carreira ou procura encontrar espaço e tempo para
reflecções extra contexto de trabalho. Os concursos de ideias sempre existiram e
os desafios por si determinados originaram, em alguns dos casos, situações em
que as respostas menos consideradas foram as que perpetuaram no tempo. Facto
que espraia a importância da decisão e que determina a incoerência que por
vezes reina em quem julga. Não obstante, a experiência de nos propormos a
considerar um edifício sobre uma série de premissas para um determinado local,
por si só, já mereceu a pena!
As causas sociais e a urgência na
resposta às exigências que as mesmas actualmente determinam, são um recurso óbvio
e constante para a elaboração de enunciados de concursos de ideias. A natureza
das problemáticas socias é motivadora e complexa, sendo consequentemente
atractiva para os desafiados. A ideia de resolver o mundo num só gesto é
utópico mas aliciante e é ai que incidem as actuais apostas de enunciados de
concursos, com convites para encontrar soluções provisórias ou perenes em
resposta a acontecimentos naturais ou consequências sociais. O modelo está
encontrado e a lógica de resposta num tempo determinado também.
A Ideias Forward enquanto plataforma
internacional de concursos de ideias faz jus à estratégia “standard” antes
referida, contudo revela-se no quadro das plataformas de concursos enquanto um
motor inusitado e profundamente desafiante. A sua substância reside em
premissas temporais, talvez se baseie no maior desafio da nossa
contemporaneidade, o tempo! A intemporalidade, a perenidade, as memorias, a
continuidade, a permanência, a casualidade ou a história são os ingredientes
para as provocações propostas. O tempo é condutor e raiz, sobretudo quando os
desafios se realizam no decorrer de um dia (24 horas). As diferenças entre o
tempo real, o tempo vivido e as representações do tempo são as dificuldades que
o homem da ciência e o homem comum se deparam no lidar da sua existência. A
aposta em desafios “curta-metragem” proporciona à Ideias Forward a
possibilidade de interpretar o “continuum”
da história e a sua representação fragmentada em utopias delimitadas num curto
“espaço de tempo”. O tempo foge e as
representações das ideias ficam para a posteridade. Nos concursos de
arquitectura, quase sempre, o que prevalece são as ideias, as melhores ideias! Parabéns
Ideias Forward!
(texto na página 122 da arq.a nº 121)